MAIS TOSCO

Qualquer amor enebria, refastela, arrebata

É gosto amigo, acudido, atarantado, baratinado

É poça de vãos tantos, de chãos tantos

Já amei descamado, destituído, desmamado

Já amei desaguçado, forjado, espremido

Já amei combalido, enervado, fugido

Cada vez era um sopro oco, aflito, rumbado

Mas nunca logrei meus guizos, nunca subverti meu porto

Fui assecla dessa foz matreira, de rendas fartas e voz gentil

Fui toco num bizarro festim que sacudiu cada pétala de mim

Então esbaforido nessa tralha alvissareira, refiz meu canto

Fiz de cada rastro ungido meu grito de fé

Daí, agora remido, busquei o que tinha de mais tosco,

mais banido, mais bandido.

Daquele amor espesso, esbanjei risos todos

Daquele amor cigano, estralado, subverti seu calor

Então, já pousado, me refiz homem, me refiz hímen

fui à cata do que tinha de mais vistoso, mais sagaz, mais estrela

E pude entender, por fim, seus vastos flancos de razão

só pra sentir o que seu cheiro dizia

e tanto teimei em traduzir.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 31/05/2024
Reeditado em 31/05/2024
Código do texto: T8075230
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