MAIS TOSCO
Qualquer amor enebria, refastela, arrebata
É gosto amigo, acudido, atarantado, baratinado
É poça de vãos tantos, de chãos tantos
Já amei descamado, destituído, desmamado
Já amei desaguçado, forjado, espremido
Já amei combalido, enervado, fugido
Cada vez era um sopro oco, aflito, rumbado
Mas nunca logrei meus guizos, nunca subverti meu porto
Fui assecla dessa foz matreira, de rendas fartas e voz gentil
Fui toco num bizarro festim que sacudiu cada pétala de mim
Então esbaforido nessa tralha alvissareira, refiz meu canto
Fiz de cada rastro ungido meu grito de fé
Daí, agora remido, busquei o que tinha de mais tosco,
mais banido, mais bandido.
Daquele amor espesso, esbanjei risos todos
Daquele amor cigano, estralado, subverti seu calor
Então, já pousado, me refiz homem, me refiz hímen
fui à cata do que tinha de mais vistoso, mais sagaz, mais estrela
E pude entender, por fim, seus vastos flancos de razão
só pra sentir o que seu cheiro dizia
e tanto teimei em traduzir.