Amor pela tragédia

Perguntam-me a razão do meu suposto fascínio pela tragédia. Costumo responder que tal apreço não está na dor, na desgraça ou nos demais acontecimentos funestos. Meu fascínio, então, não é pelo trágico na face da dor, mas pela vida humana. Ser humano é estar condenado a perceber a finitude, os pequenos velórios diários que marcam o encerramento dos nossos ciclos tão frágeis, dos mais simples aos mais complexos. Desde o fim de uma conversa ao final de uma guerra, pequenos encerramentos, pequenos assassinatos de momento. É da compreensão da falta que emerge a valorização da presença. E por essa razão, sou trágico, por acreditar que só é possível amar a vida em razão de uma provável despedida que dela venha a roubar o seu sabor.