janela
Tomo-te de metáfora, ó janela tua,
Árvores frutíferas enquanto a platibanda
Oculta a chuva que beija a calçada, e a mesma
Janela, horas, memórias aflitas entranhadas,
Era escura, sombras diversas dançavam
Como o horror silencioso, a membrana invisível e desenganada,
Das coisas quase se rompendo, terrores sem nome,
Sem endereço, sem o tempo em que nasceram
Sob a erupção de alguma fantasia assimétrica,
Há de ter em tuas lembranças também, a cobertura
Na relva, tão verde quanto o vermelho do sangue,
Contando-nos o coração pulsante da vida, e tu dançavas,
Amavas o que te cercava, a simples necessidade
De viver e ter na vida tua fé mais tranquila, descendo
No lago, fundo e profundo, águas de prata e esperança, banhando-se,
E quando a água, ao sair, escorria pelo corpo, milhares
De sóis acendiam para logo apagar a luz que o céu espalhava
Pelos cantos de tua morada, o café, tuas mãos
Em minha cabeça, dizendo o que não cabe em palavras, ainda
Que apontasse para nosso escuro mais secreto, éramos
Outro tipo de sol a se acender quando tua fala nos ligava à eletricidade
Da existência, do tempo um tanto mais vazio, cálido encontro do osso
Com seu hábito menos soturno, fecho a janela e sua memória
Indelével, por um instante sei da vida, vertigem e deleite, sei
A doçura e a alegria que em mim é uma semente para o extático.
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