dos versos
O verso não nasce no encontro de palavras,
Não é desta irmandade que surge o sentido,
Na verdade, as palavras, antes da festa, cospem
Na face da companheira, dormem na calada
Imemorial, dizem uma à outra: bastardas,
Presença indesejada, tampouco necessária, e nada
Sabem sobre o rescaldo que rescende entre as platibandas,
Que, se não cortam o sangue, o coagula às portas
Do coração. A pústula, já sem a película,
Escorre por entre os veios da memória,
A fétida e descolorida imprudência atrás
Do muro branco da escola, os vestígios de vagão
Interrompido se escondem, enquanto cantamos
Os hinos mais aceitos, apertados, às vezes,
Já corridos entre os dilemas menos celebrados,
Com o bornal carregado dos beijos já sonhados,
Não sabemos do maremoto, do corte afiado
Que ainda é gênese de uma faca futuramente
Cortante. Somos narrados enquanto olhos não
Se abrem para outra cantiga que essa de Jericó,
E os braços empurram a água salgada enquanto
Nossos mortos não sabem de suas partidas.
Pensamos saber amar, ainda que não saibamos
Do sangue vivo, do espirro venenoso da água
Vermelha. O mar ainda não se abriu e tudo
Que sabemos é do estômago. Então o verso
Não conhece as palavras, germes só a cantarolar
Algum destino, isso será vampiro e dormência,
Labuta diversas portas empenadas sem o
Azeite que mais tarde acenderá a relva.