O CÃO AMARELO
Já não é mais inverno, já não é mais nada.
Na grama jaz a carcaça triste do cão amarelo,
desafiando o lírios a lhe disfarçarem a podridão.
Não há modos na morte mais desajeitada,
retorcida na brutalidade dos calores do dia.
Enquanto o aceno dos humores futuros
ainda não se apercebe do pequeno caos,
serpenteia sua delicadeza entre xícaras
ignorante que é da selvageria matinal.
E como entedia saberse menor e emudecido
ante a corrosão do corpo desse antigo vivente.
O apodrecimento tomará as maneiras e gostos,
até que da louça antiga não sobre sequer o pó.
Apropriadamente, o que nos mata é a desimportância.
A falta de luminosidade nessas horas que atravessam a noite.
E como barco que se vai, engolido pelo horizonte feio,
vão-se as tristezas triviais, do cão amarelo desintegrado.