O CÃO AMARELO

Já não é mais inverno, já não é mais nada.

Na grama jaz a carcaça triste do cão amarelo,

desafiando o lírios a lhe disfarçarem a podridão.

Não há modos na morte mais desajeitada,

retorcida na brutalidade dos calores do dia.

Enquanto o aceno dos humores futuros

ainda não se apercebe do pequeno caos,

serpenteia sua delicadeza entre xícaras

ignorante que é da selvageria matinal.

E como entedia saberse menor e emudecido

ante a corrosão do corpo desse antigo vivente.

O apodrecimento tomará as maneiras e gostos,

até que da louça antiga não sobre sequer o pó.

Apropriadamente, o que nos mata é a desimportância.

A falta de luminosidade nessas horas que atravessam a noite.

E como barco que se vai, engolido pelo horizonte feio,

vão-se as tristezas triviais, do cão amarelo desintegrado.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 27/05/2024
Código do texto: T8072918
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