A reta enfadonha
A regra !
O ritmo
O rebanho
Medonho
Enfadonho
O inferno onde minguam os iguais
A regra torta de tão reta,
de tão certa, de tão pobre
A nobreza sonha nas estradas curvas e ondulantes
Nessas estradas úteros grávidos de poesia - compõem-se como explosões
A retidão tão vulgar de tão correta
A linha tão cega de tão certa
O caminho anestesiado
A estrada infértil
Os desertos da alma
Sólidos como o teu olhar
Que apenas vê a superfície rasa
Que apenas vê o aparente
Que apenas vê a vagueza
O opaco, lodento de bolor
Ah, o teu olhar cheio de fadiga,
O teu olhar oco, fadigado
O teu olhar cansado das rasuras
e dos rascunhos embriagados da tua pobreza do teu ver limitado,
atado, solapado,
o teu olhar enrugado, tuas pálpebras retas,
Tuas pálpebras retas sobre as descores da paralisia do teu olhar desvital, anêmico,
Ah, o teu olhar descolorido,
Ah, o teu olhar encolhido
A pobreza do teu olhar,
a impotência do teu agir
das muletas do teu pensar raquítico e tuas opiniões paralíticas que te impedem
de Sentir o pulsar da vida
Que te impedem de sentir
o gozo da vida arder da valentia do teu coração a colorir o teu olhar
Este olhar desprovido, insosso, curto, reto, linear
Ah, o teu olhar desbotado, encardido,
Sem o viço do Poeticamente Bonito a irradiar e perfumar a vida com os ritmos
que tem as cores sagradas
Com tuas asas a compor a inteireza
do teu caminhar tingindo da Beleza de existir
O teu olhar apenas nutrido
de uma sub-vivencia envergada de tão tonta, de tão vil
Acorda os ritmos que em ti perambulam como sonâmbulos
Só assim - então com o sopro
do escopo dos versos nítidos
de tão loucos
poderás erguer - se
e sorrir como um homem
Assepsiado dos teus dogmas fastiosos e ridículos
(raicarvalho)
24052024
noite