árvore de muitos galhos
Teu encanto era um muro que sustentava
O telhado, cujas janelas nos revelavam
O mundo. No meu silêncio mais profundo,
Teu vulto era um fio que me unia às coisas
Mais preciosas. E teus olhos eram os meus, tuas
Mãos me ensinavam todas as letras com as quais
Aprendi a ler o universo. E quando choravas,
Eu, por dentro, sem saber por quê, já sentia
A dor, tanto na sombra quanto no sol mais
Ofuscante. E foi pelo teu coração que compreendi
Que as montanhas nascem de vales profundos,
E que a verdadeira alegria é rara, porque
A vida autêntica é árdua. E que sob tua asa, ainda
Que quebrada, não havia lugar mais seguro. E que
Nas árvores há tristeza, como há uma
Tristeza que nos guia pelos caminhos que
Nos importam. E cada dia era como uma vida
Com seu despertar, sua existência maciça e os olhos
Vermelhos anunciando a hora do crepúsculo, o
Último, onde os que se foram nos dizem que estamos
Olhando para o final mais refinado.
É turvo, embora nada nos escape e cedo ou tarde
nos damos conta que cada espaço tem seu contorno
já inscrito, E o que dizemos se torna o que havia esquecido,
então meu amor renasce, mais puro, dolorido. E tuas
canções de novo me sopra o coração,
Então me sei , um fruto, um talo cuja fé é sua fibra,
Pendurado numa árvore de muitos galhos e amorosa.