A CORTINA DO CÉTICO
A vida me consome!
Sou agnóstico a cada raiar.
Com a luz de todo dia
a vida me contamina
do matutino ao vespertino
e o amor vem me entediar.
Você não sabe que
compulsão vira êxtase
e do êxtase nasce paixão?!
Você não sabe o que eu escrevo.
Não lê meu coração!
Não pode.
Mas, se pudesse, lhe venderia
as escritas do meu órgão.
Alienaria essa mão
que duvida do seu valor
de seu próprio amor?!
E a mim não careceria
mais viver em vão.
Por trás da cortina,
um cético habita
o banco solitário.
Não mais admira
não mais contempla
vive sem sonhar
Pensa, às vezes, em quem o contesta...
- nega a essência -
e no amigo que o detesta
e na mulher que ama
na donzela, que a ela
poesias declama!
E nas palavras que não encontra
no mundo antes sonhado
que não existe.
Dos surtos, a inspiração
que não o procura...
Recorda-se dos vestígios
de uma música
do princípio de sua loucura
Do tempo que o deserta
de um olhar que a musa lhe flerta
de uma década
de outras realidades
de noites que lhe deixaram saudades
Do beijo pungente
da dama mais linda
de seu drama dormente
que a vida lhe furtou
E o asco finda,
aos poucos,
o que o peito juntou!