Interdito
(...) Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogio.( Manoel de Barros)
Interdito
Busco nas palavras o que pode traduzir
a poesia que me habita
às vezes preciso ir pra beira de um rio viscoso
com meu anzol
para ver se consigo que algumas delas fisguem a isca do desejo
que lanço nas águas em tons de marrom
e possam preencher o meu caçuá momentaneamente
até que se transmutem em versos em minha mente
Como nuvens
que ocupam o céu ao sabor dos ventos
e das alternâncias climáticas
que viram nimbus
cumulus
cirrus
ou qualquer outra forma combinada
ainda oculta dos saberes populares
E se nuvens são volúveis
mesmo as mais densas
carregadas
claras
brancas
róseas escuras avermelhadas
são lindas leves ou assustadoras
em sua insignificância
Posteridade de nuvem? nem pensar
quem se arrisca a se apoderar
das nulidades do mundo?
das riquezas intraduzíveis
em ostentação?
De repente vejo um novo-rico
caminhando por estrada de terra
de olhos e ouvidos atentos
ao seu derredor
é como se a poesia caminhasse buscando pouso
na poeira
na sinuosidade do caminho
na árvore torta e seca à sua direita
e uma fileira de cupinzeiros lembrando um cânion
à sua esquerda
num lindo tom de amarelo queimado
Vou me apegando às irrelevâncias,
a tudo-que-não-é
a essência poética está entranhada ai
na minha procura
vou aprendendo a sentir
a intuir
que são as implosões de deslumbramento
que nos acometem quando a razão silencia
que a insignificância
vira poesia.
Amarilia T Couto