Preparação
A cor das paredes,
o lugar (preciso)
de cada coisa
e (re)colorir com quadros
e móveis.
Preparo um poema
como quem arruma o quarto.
Com ansiedade, o rearrumo,
cada dia,
e desejo vê-lo feito
como quem aguarda o parto.
Preparo um poema
como quem planta flores,
estuda-lhes os aromas,
espalha-as em cada canto,
transplantando paraísos
aos caminhos.
Não calcularia um poema,
com palavras de fino trato,
com métrica e, comedida,
ciosa por não mostrar-me.
Apuro sons e imagens,
perco-me em seus alcances
e não decifro, por vezes,
as mensagens que trazem.
No entanto, preparo um poema.
E é um preparar de quem rasga
a terra e deita sementes.
Cuidando do verde delicado,
quando as terras e as mãos
se desejam
e o suor fecunda o chão...
Pois eu preparo um poema
como, em alquimia,
se prepara o pão.