poesia

Tomo-te de metáfora, ó janela tua,

Árvores frutíferas enquanto a platibanda

Oculta a chuva que beija a calçada, e a mesma

Janela, horas, memórias aflitas entranhadas,

Era escura, sombras diversas dançavam

Como o horror silencioso, a membrana invisível e desenganada,

Das coisas quase se rompendo, terrores sem nome,

Sem endereço, sem o tempo em que nasceram

Sob a erupção de alguma fantasia assimétrica,

Há de ter em tuas lembranças também, a cobertura

Na relva, tão verde quanto o vermelho do sangue,

Contando-nos o coração pulsante da vida, e tu dançavas,

Amavas o que te cercava, a simples necessidade

De viver e ter na vida tua fé mais tranquila, descendo

No lago, fundo e profundo, águas de prata e esperança, banhando-se,

E quando a água, ao sair, escorria pelo corpo, milhares

De sóis acendiam para logo apagar a luz que o céu espalhava

Pelos cantos de tua morada, o café, tuas mãos

Em minha cabeça, dizendo o que não cabe em palavras, ainda

Que apontasse para nosso escuro mais secreto, éramos

Outro tipo de sol a se acender quando tua fala nos ligava à eletricidade

Da existência, do tempo um tanto mais vazio, cálido encontro do osso

Com seu hábito menos soturno, fecho a janela e sua memória

Indelével, por um instante sei da vida, vertigem e deleite, sei

A doçura e a alegria que em mim é uma semente para o extático.

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