Cotidiano (de um Lobo da Estepe)

Acompanho fantasmas

Em frestas e lagos

Escuros, falazes,

Sumindo na linha

Cantando o arrebol

Pernoitando sem sol.

E vem a alvorada

Ligeira sorrindo

E eles se espantam

E vão-se chorando

Chorando agonia

Espantando alegria

E eu assistindo

Nos becos já turvos

Tristes e bêbados

Choram também

Sem um níquel sequer

A murmurar.

Sem roupa decente

Uma barba pendente

Embebida em mel

Esperando cortar

Dia após dia

Desço em infernos

Particulares ou não

Vagueando a pensar

Em íntimas dores

Familiares

Passados, valores...

Almas e pares.

Por isso que eu

Não me espanto com nada,

Porque nesse mundo

Já sofri os amores.

Senti os ardores

E não ressenti

E mesmo assim

Vez essa ou outra

Também vago em céus

Acompanho os flancos

De cavalos montados

Por anjos calados

Que sabem também

Que mesmo humano

Ainda que errante

Traindo a espécie

Sou um amante!