Desventura

Não consigo recordar exatamente...

Há algum tempo,

o desencanto e a desventura cortam,

penetrantes, minha existência...

Perdidos, adernando,

barco sem bússola, tripulantes ou substância.

Em suas velas etéreas,

vejo minha esperança,

sempre fustigada pelo vento

já reduzida a pouco mais que trapos,

cheirando a maresia.

É essa nau imunda,

que arrasto com dificuldade,

com sua âncora ferindo

o ventre da terra.

É essa vida inútil

(que eu vivo?),

e devo sorrir, arreganhar meus lábios

e mostrar meus dentes podres

para a sorte,

que sempre me olhou

com desdém!