Uma tarde de deleites e eflúvios
Embala-me um perfume intenso e delicado
de flores brancas e copiosas,
ornando uma murta:
árvore baixa, encorpada,
com folhas pequenas, espessas e alumiadas.
Por que uma murta estaria aqui,
na cidade?
Ela largou sua vida pacata,
e, desempenhando um êxodo rural
(chaque, cheque, chuque…),
veio para Feira de Santana.
No entanto, ela é ignorada
pelos moradores e caminhadores urbanos;
somente é aclamada
pelos únicos citadinos que a cultivaram
e por mim, que venero um campo verde e florido,
o horizonte com serras azuis e longínquas
e a vida dos moradores rurais,
especialmente, a fisionomia e a penumbra
de um bom senhor com um chapéu de palha,
uma roupa evolando odor de estrume de boi
e uma enxada escorada no ombro.
Ele, sem dúvida, acalenta suas murtinhas
cultivadas nas cercanias da casa.
Eu, aqui, na cidade,
sou embrulhado pelo aroma único das flores
da murta semeada num canteiro,
no eixo de uma via de mão dupla.
A fim de florescer, um pouco mais,
esta tarde aérea e aromática,
uma boa senhora está sentada numa cadeira
sobre a calçada.
Eu digo: "Boa tarde".
Com uma voz afônica, desarmônica, rastejante,
porém doce e animosa,
ela responde: "Boa ta…arde".
Quão deleitoso é ouvir a voz branda
de um fulano vivo!