FALANDO COM AS ROSAS...
A minha solidão é quase perfeita...
Observo um jarro de flores
sobre a mesa da sala de estar.
Estão ávidas – umas sobre as outras.
Quase perfeitas na sua mudez
tranquilas e imobilizadas
como eu estou – diante delas
diante da vida que me reserva...
As rosas olham-me com grande piedade
e aceitam – meu último pedido de perdão
que já vinha misturado a altivez
de uma solidão já quase perfeita...
Não pude impedir o alivio que senti.
As rosas – com sua modéstia de flor
Eu – sem uma palavra sequer a dizer...
Fazia o possível para não me tornar
luminosa, inalcançável, superior...
Voltei a minha insignificância...
Com reconhecimento. Cheia de curiosidade,
esquecida da própria submissão.
Com um vago desprezo pela rudeza natural
da humanidade. De tudo que despertara
em mim. Senti um carinho perplexo
pelas rosas que dominavam meu espaço
e me vesti de branco obedecendo ao tempo...
Com timidez e respeito – sentei-me
no sofá sem apoiar as costas.
Alerta e tranquila – como um trem que já partiu...
Há quanto tempo eu não fazia isso?