Dia a dia urbano
Nas ruas das cidades,
afloram cidadãos
derivados de heterogêneas
aglutinações coletivas.
Num dia orvalhado,
percorrendo uma via de mão dupla,
com um canteiro ao meio,
as casas fitavam uns citadinos
indo e vindo a pé:
eu,
indo comprar sal;
a meu lado,
passando depressa
uma senhora ruiva,
emudecida, despretensiosa e ponderada
— talvez indo executar
uma incumbência humana e trivial —;
do outro lado, vindo, em rumo contrário,
uma mãe tão jovem,
empurrando, num velotrol rosa,
uma mocinha tão singela,
ao passo que piava
com uma gaiata
— com ares de ser sua amiga
e alvoroçada com as pessoalidades
e os rumores, que ouvia —;
vindo mais atrás
e atravessando o canteiro para meu lado,
um casal proseando
— sobre, quem sabe, esboços, recreações
e peripécias de família.