Travessia

O Ser figura em eterna dança,

Atravessam-me efígies, sopro e mudança, 
ei-me Estado: intrincado laço

de todos os sons, sonhos e espaços onde

a potência fez-se em flor,

Em sombra, em vácuo,

em senciente afago,

em rocha e horizonte n’ocaso.

Todos os Eus, em pendular balanço

dissolvem no abraço celeste do

Co-Existir, sem estratos.

O porvir ensaia tua marca em meu dorso,

Repousa, serena e latente, a pulsão do Será.

O Sol ou o sal da terra que

devorar-me-á no amanhã

A transformar vértice em caule, semente em lembrança,

És mesmo este, que da colisão dos astros de ontem fez-me d’Estrela, o pó.

O vital Alento, plácido sopro a

perpassar o Tempo:

Era, antes de ser.

No observar atento e sutil, sabendo-me eterna aprendiz,

Como n’o primeiro olhar de uma criança,

Aos poucos compreendo,

Que o coagular e a explosão brincam

D’um perene alternar-se,

Gangorra do existir, vento sagrado e profano, és mergulho do celeste trampolim

para dar início ao eterno ciclo de vida.

Mãe e filha, a força circular e retilínea: coexistem, coabitam

o sempiterno espiral infinito

da Criação, e do

Fim.

Nicolle Ramponi
Enviado por Nicolle Ramponi em 19/05/2024
Código do texto: T8066458
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