Travessia
O Ser figura em eterna dança,
Atravessam-me efígies, sopro e mudança, ei-me Estado: intrincado laço
de todos os sons, sonhos e espaços onde
a potência fez-se em flor,
Em sombra, em vácuo,
em senciente afago,
em rocha e horizonte n’ocaso.
Todos os Eus, em pendular balanço
dissolvem no abraço celeste do
Co-Existir, sem estratos.
O porvir ensaia tua marca em meu dorso,
Repousa, serena e latente, a pulsão do Será.
O Sol ou o sal da terra que
devorar-me-á no amanhã
A transformar vértice em caule, semente em lembrança,
És mesmo este, que da colisão dos astros de ontem fez-me d’Estrela, o pó.
O vital Alento, plácido sopro a
perpassar o Tempo:
Era, antes de ser.
No observar atento e sutil, sabendo-me eterna aprendiz,
Como n’o primeiro olhar de uma criança,
Aos poucos compreendo,
Que o coagular e a explosão brincam
D’um perene alternar-se,
Gangorra do existir, vento sagrado e profano, és mergulho do celeste trampolim
para dar início ao eterno ciclo de vida.
Mãe e filha, a força circular e retilínea: coexistem, coabitam
o sempiterno espiral infinito
da Criação, e do
Fim.