Ao Universo
Transitar entre cometas
Entre estrelas e a razão
Ver nascer novos planetas
Ver fulgurar a imensidão
Além de um quarto escuro
Muito além da via maternal
Onde vagueia o futuro
E a jornada não tem um final
Lá onde brincam os deuses
Com as cartas do destino
Saltar a incoerência dos meses
Sob o olhar de um menino
Assaltar a figura do vazio
Esquecendo o que é ilusão
Crer na queimadura do frio
Crer um pouco na redenção
Acima do caos e do medo
Muito acima do que é ideal
Onde o homem pisou em segredo
Entre escorpiões, touros e o mal
Nem Cetus feriria o espaço
Ou satélites devorariam a lua
Nem todo esforço e cansaço
Acabariam o que vemos da rua
Morar junto das nebulosas
Entre a miragem da escuridão
Ter as visões mais fabulosas
Ter o silêncio e toda solidão
Longe dos monstros terrestres
Muito longe de um velho quintal
Para poder beber com os mestres
A estrada de leite universal
Dormir na vastidão do universo
Caminhar entre lendas antigas
Onde a morte seria regresso
E as vidas seriam apenas cantigas
Viver entre flechas e mitos
Sobre o olhar de toda oração
Ser mais do que olhos aflitos
Ser parte, enfim, da criação