Dissonâncias
Ocorre- me que não sou dócil
Nunca saboreei cerejas
Minhas ideias assimétricas
não agradam à horda
Vivo no âmago do timo
na corola de algum cravo
na contra- mão das coisas .
Estou muda , enforcada
pelo alarido da corja
A confraria dos alienados
é garganta que nos engole
Há diagonais e diástoles
Sigo semimorta nessa trama
Finjo pois sou poeta
mas indago: há gente no mundo?
Escrevo memórias de chumbo e anil
Antevejo dissonâncias
Penso: como suportar a alcalose
o surto, a cetose
um trem descarrilhado
As anáforas e anagramas ?
Estou farta das aparências !
Do calcanhar ao crânio
das apófises ao fêmur
tudo é sorriso engelhado
tudo é amor póstumo
Cansei – me de semi-deuses.
Marcia Tigani