o alimento dos dias
Olhemo-nos: eu, o outono; tu, a chuva,
Em nossa vertigem que desfalece o ser,
Obedeço à amada e me aventuro sob o guarda-chuva,
Embora as noites se mantenham estreladas.
Não existe verso mais sublime
Do que aquele que a vida grava em nossa carne,
Amor verdadeiro, preciso, não um eco do passado,
Já transformado em cinzas, uma cicatriz queloide,
Fibra desfeita —
Amai a vida, como ela se apresenta,
Mesmo sonhando-a com a pureza de uma criança,
Mesmo quando o sangue jorra
Com uma frequência alarmante.
Torna-te tranquilo, coração!
Quando me vejo envolto pelos braços
Que, enraizado nesta janela, se abre
Para todo o sol que floresce no pensamento.
Esse é o alimento dos dias,
Nutrindo o ventre que está sempre a se abrir.
E o solo, deve ser lavrado para que a flor
Seja nutrida e exiba a cor mais embriagante.
Apoiada no mourão, ainda posso vê-la,
À espera de amor, quem dera fosse esse,
Na intersecção do efêmero com o eterno.