amor intacto
Não é a memória que nos sustenta, mas a chama persistente,
Como também tu persistes, um atlas de inúmeras
Ilhas, vastos continentes sem nome nem borda.
Tu, água venerada, atemporal, pura e revitalizante,
Que desperta a carne e transmuta o desejo
Em um horizonte ensolarado, como se os campos
Fossem nossos refúgios, invadidos pelas ervas selvagens, iluminados
Pelas flores, estrelas em miniatura a guiar as memórias
Que escaparam no sacrilégio do mundo.
Transforma-te, ainda que em tua essência permaneças imutável,
E então, a vertigem desvenda quais
Vestígios brilharão sob a sombra mais suave,
E qual loucura supera a de não extinguir o tempo, mas vivê-lo
Com plenitude em tua presença: paciente, intensa,
Colorindo de longe as copas das árvores
Com uma imensa nuvem liberta para ventilar
A vida com ternura.
O tempo se solidifica, embora o chão se torne ansioso,
E desvirgina com a boca da tempestade o dia mais
Claro, onde dançarinas se entrelaçam às árvores
Fazendo-as dançar, e o vento agita suas folhas,
E nada mais é constante, exceto esse sonho
De se reconhecer vivo, de ser uma pedra que respira,
Um gemido, secreto e humano, que busca por um nome.
Na superfície delicada de um lago tranquilo
O céu mede a profundidade de sua queda, enquanto
Correntes subterrâneas, indiferentes, seguem seu curso,
Mas o destino deve se vestir de tua vontade,
Que tua dança seja aquela que a natureza acolhe
E nos consome como a mais suculenta das fomes.
Então, revelas teu ouro mais sagrado, tua trama
Mais reluzente, a revelação, simples, pura, intensa
Teu rio em busca do mar, onde a luz dispersa
Teu brilho, dançando sobre as ondas,
Em ti, um portal para o desejo eterno, em ti, onde lavas
Tuas mãos e as pedras delineiam tua vontade
Em ti, o espaço acolhe teu corpo na forma mais prazerosa.
E tu ri, e tu danças, conheces a semente e a árvore pronta
Conheces o vento e a folha que se adapta, porque tudo
É duração, tudo é esse acúmulo, que quando explode
Uma árvore frutifica com frutos maduros, e o néctar do teu
Ser sacia aqueles que te conheceram, que do teu
Mistério fizeram o enigma mais agudo, solene, tão aberto
Quanto dogmático, uma costura de extremos a revelar a linha
Que emergiria do minotauro , embora saibas que
Tudo isso é a vida em suas travessuras, seus saltos e quedas,
Uma maneira formidável da vida se manifestar.
O tesouro mais valioso é saber adornar a espera e dela
Criar um reino ornado, de pomares e maravilhas inesperadas
A se inclinar sob seu véu,
À distância, como se o alvorecer antecipasse
O sol, e este lhe oferecesse um palco para brilhar
Nas noites encantadas, astros distantes,
Astros que tornam a escuridão tão nobre quanto leal
Aos olhares daqueles que buscam no céu.
Saliva e sal, vertigem e as noites banhadas de luas
E no peso sobre nossos ombros, tua fala fluida, teu ser na
Plenitude juvenil fazendo o campo ser mais
Do que mera relva, o espaço onde a doçura aprende dos
Encontros, esmeralda preciosa, e tua
Imagem se eterniza, vívida, proeminente,
Única enquanto as eras se desdobram no vazio.
O fruto mais doce em teus lábios,
Um sabor que se dissolve, nutre e nos enraíza não no
Tempo, mas em seu desvanecer, em seu colapso, nada é
Mais do que este presente e nos envolve com sua luz
O sabor mais doce, tua voz, um sopro
Que desperta a pele e nos ensina que a existência se aconchega
No íntimo de cada desejo, que o mistério permaneça
E se conheça e que se reconheça na vastidão do céu e suas
Galáxias, tu és a guerreira que cavalga através das horas,
Que atravessa estrelas, e se renova, sabendo que és o néctar,
A ambrosia, o mel das papilas mais refinadas.
Conheces os mergulhos sublimes e tuas pernas são raízes que conhecem o mais profundo,
O escuro necessário, a sombra mais amada
Então nos reconhecemos como abismo compartilhado.
E tua voz graciosa evocando suavidade, fluidez,
Carícia, e tua palavra se perdendo em
Mares de ternura e êxtase, e eu acolho tua
Pele absorvendo meu calor, diminuindo distâncias, em breve tua
Mão, talvez eu tenha a fome mais sábia
O labirinto que revela o fruto mais doce.
Tua presença, silenciosa e próxima,
Teu gesto, a entrega de um tesouro,
A dança, mãos que se encontram e se perdem.
Te percebo, te conheço, antes do orvalho,
Antes do calor que doura a existência,
Rio a outro rio, embora sinuoso,
Teu caminho, luar acariciando as folhas
Com teu vasto mistério, assim, sabe
Uma árvore consciente de suas raízes, sabendo
Que cada época tem seu momento de ser,
De um reino preservado, um amor intacto.