NÃO TENHO PRESSA...
Não tenho pressa de viver...
Se vivendo já estou há tantos anos!
Desde a ínfima possibilidade
Que algo de maravilhoso aconteça
Neste meu existir que se espalma
Na eventual incerteza de tudo
Incógnita extensão de mim
Que transgrido na imensidão!
Não tenho pressa de amar...
Se amando já estou há quanto tempo!
Desde o romper da aurora todos os dias
Até o crepúsculo vespertino a cada sol
Visto-me de arrebol e alvorecer...
No entanto, o manto escuro da noite,
Revestido de estrelas é meu consolo!
Não tenho pressa de morrer...
Se morrendo já estou todas as horas!
Desde o primeiro suspiro da nascença
Até o derradeiro alento da despedida
Tudo é tão natural e espontâneo...
Surpreendente é não se morrer nunca!
Não tenho pressa...
De nada. Se a existência por si redime
Todos os mistérios que a alma guarda
Serei sempre um fio a se partir ao meio
Sem vida, sem amor e sem nome...
A fenecer em completo anonimato
Onde a poesia eleita regressa ao seio
Poupa-me do sacrifício visceral...
O verso se decompõe em pétalas de rosa
O poeta tece a inspiração cambaleante
Com o pincel doirado, nascente da alma,
Tudo é verossímil, complexo, inadiável.
Não tenho pressa!