cercado de imagens

Cercado de imagens, a carne se torna escassa,

ainda que no bolso a fartura se desenrole, árduo,

e me queimo na espera eterna de um gesto

que se imagina maior do que a própria vontade,

e apenas o coloco junto às coisas que são necessárias,

teu caminhar, tua fala indecorosa.

Que culpa me assenta, se tua embarcação não é talhada

em madeira nobre, se a fauna que aguardas

não comporta uma criatura que fale?

sou feito mais de palavras do que de atos,

e nisso, fiz meu passeio por este mundo,

e me derramo à espera que teu riacho de águas claras

que venha até meu ventre e me arraste para o profundo extático,

contudo, meu desalento não compensa o esforço,

conheço meu destino, e tu ainda percorres

a mesma relva que ao sol late em todas as manhãs,

vulgar é este meu desejo que escava até o âmago,

envergonho-me deste estado impróprio,

todavia, não amarro teu vestido à minha vastidão,

sei e desconheço, como ignorar sabendo

corromper as palavras, mais de mim na escuridão

do que exposto a esta vida desaforada,

que me canta pelos cântaros do coração,

teu lábio delineia tua língua enquanto as palavras

escorrem sem compromisso, fizeste-me adquirir

uma fazenda florida, uma sapatilha de couro exótico,

e não desceste ao asfalto, danças em minha mente,

mas já não é um caminho viável,

o guardanapo já não absorve minha saliva e eu rosno para dentro,

extensa e louca, nasce uma flor onde habitavas,

a flor carrega teu aroma, ainda que nada

me fizesse lembrar uma flor.