AQUELE RETRATO
Ainda tenho teu rosto naquele retrato
guardado na segunda gaveta do armário
e no penúltimo escaninho que fica
lá no fundo mais escavado da memória
Restam-te sobras da menina
apesar da recente adquirida mocidade
como nos cabelos assanhados pelo vento
cuja corrente a foto não capturou
e que hoje já não ventanejam mais
Ah! se os retratos falassem
poderia ouvir de novo teu som de pássaro
como ali atrás te escutava bem antes de voares
Mas os retratos são apenas imagens
grudadas no tempo alongado dos papéis
esses pequeninos pedaços de imortalidade
que sobrevivem à nossa repentina eternidade
Será que já passei por ti na multidão das décadas
e não distingui ou reconheci a tua nova face?
Nunca mais teu rosto será como naquele retrato
que trago conservado em alguma cofre
engavetado no fundo recuado da minha história