pra tu, bailarina
Não, jovem alma, não é deste
mundo , a pedra que murmura a verdade,
Não é senão pedra banhada em silêncio,
Ou o próprio silêncio cristalizado no esquecimento.
E tu, bailarina das sombras, ainda não conheces o fogo,
A arena onde os titãs invocam suas mães
E só o abismo responde,
Com carne, uma caverna sombria aguardando tua luz,
Esperando por palavras para lentamente decifrar
Fragmentos de um existir não explorado, talvez ansiado, ou
Apenas o rio que, ao perder suas águas, torna-se mármore
Vermelho como a carne, ou a própria carne densa
De sangue e agonia. Chegará o dia em que não mais
Sustentarás tua criação, e descerás ao labirinto mais selvagem e insano, mas
Por enquanto, beija teu próprio rosto, amado e belamente talhado para que o amor seja simples, sorve esse mel que
Te escapa pelos dedos, beija essa boca sedenta por tua saliva,
E sufoca com essa vida que generosamente te é oferecida, e ama,
Ao menos alguém digno de teu afeto, pois esse amor ou esses
Pequenos prazeres serão tua memória mais doce, teu segredo mais íntimo, embora manchado pela ausência. Mas, jovem alma, não te apresses,
Talvez nunca venhas a provar o fel que se acumula, o amargor que tanto fere; talvez, teu veneno seja essa doçura que a juventude
Possui em excesso. Mas se desceres ao patamar menos iluminado, saiba que muitas mãos se estenderão, ainda que apenas o abismo te acolha, somente a entrega mais arrebatadora revelará o nome
Da fruta que leva a árvore a gerar outra árvore. Mas não te apegues
A nada, nem mesmo a este poema, pois nada é verdadeiro quando se trata de aprender a amar.