NENHUM PINGO
ontem foi domingo,
paralítico, como todos os outros.
quente, muito quente.
de chuva, nenhum pingo.
os ossos acho que sabem
que nesse dia não se articulam,
uma sensação de titânio,
uma claustrofobia de vagem.
o que fazer pela manhã
se a tarde também me reserva seu ócio?
as horas parecem as mesmas
e viver, uma experiência vã.
abro portas, fecho portas,
olho a geladeira,
vasculho as gavetas,
minhas emoções todas mortas.
dou descarga,
no turbilhão me despeço,
sem sucesso,
dessa sensação que não me larga.
a comida sem gosto no prato,
o garfo, a faca,
o copo embaçado,
o pão intacto.
o ritual de todo santo domingo,
a missa monótona e infindável,
a inquisição.
compaixão, nenhum pingo.