Agora É Tarde

Naquela manhã eu bem que a vi

Cabelos negros e vestes de mar

Eu ainda estava tão preso aqui

Que nem soube lhe aproveitar

Depois as trevas tomaram meu lugar

O Tempo parou e eu me desentendi

Revia seus olhos e o fundo do mar

Além das areias que se foram dali

Daí em diante, só sei que me perdi

A última versão perdeu a nuance

Anjo de guarda ou anjo de guerra

E mais uma história vista de relance

Aquilo tudo que o olhar enterra

Cala-me a boca e talvez se encerra

Esse capítulo de um falso romance

Tão gasto quanto a paz e a guerra

Talvez um dia eu ainda descanse

Mas devia ter morrido quando tive a chance

Já quase não sinto esse peito que arde

Parou de bater por volta das sete horas

Fechou os portões sem nenhum alarde

E desafiou a Morte: por que demoras?

Com uns traços de confissões e auroras

Dormiu sereno para que nada o aguarde

Com todo esse veneno para as últimas horas

Podem até acreditar que sou covarde

Mas descansem em paz, pois agora é tarde

João V Zibetti
Enviado por João V Zibetti em 27/04/2024
Código do texto: T8050996
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.