Agora É Tarde
Naquela manhã eu bem que a vi
Cabelos negros e vestes de mar
Eu ainda estava tão preso aqui
Que nem soube lhe aproveitar
Depois as trevas tomaram meu lugar
O Tempo parou e eu me desentendi
Revia seus olhos e o fundo do mar
Além das areias que se foram dali
Daí em diante, só sei que me perdi
A última versão perdeu a nuance
Anjo de guarda ou anjo de guerra
E mais uma história vista de relance
Aquilo tudo que o olhar enterra
Cala-me a boca e talvez se encerra
Esse capítulo de um falso romance
Tão gasto quanto a paz e a guerra
Talvez um dia eu ainda descanse
Mas devia ter morrido quando tive a chance
Já quase não sinto esse peito que arde
Parou de bater por volta das sete horas
Fechou os portões sem nenhum alarde
E desafiou a Morte: por que demoras?
Com uns traços de confissões e auroras
Dormiu sereno para que nada o aguarde
Com todo esse veneno para as últimas horas
Podem até acreditar que sou covarde
Mas descansem em paz, pois agora é tarde