memória
Mesmo que mudes de nome,
teu caminhar é o mesmo,
tua essência se espalha quando te trago á pele.
A memória, líquida, assume formas
que o desejo esculpe, aquecendo-se
no espaço onde persiste o corpo.
Das profundezas, o segredo das coisas emerge,
tornando-se pensamento, e em ti me deleito
ainda que não subamos juntos a escadaria; antes,
teu seio, eu toco, mordo, enquanto tu, em silêncio,
respiras fundo, e minhas mãos, como cachoeiras,
desaguam frias sobre tuas coxas ardentes
que, em silêncio, ainda guardam palavras,
antes que o vazio nos lance para fora
pela porta que tudo engole. Não registro
os detalhes, o tempo foi escasso e a saudade, imensa.
Caminho pela cidade, agora em círculos
inabaláveis, conquistados a passos, por entre jardins, casas,
a rua principal sussurra a solidão mais concreta.
Vejo uma árvore imponente, seus frutos
são lágrimas de tristeza; breve é a vida
para o amor que as árvores sustentam. Penso,
no vasto das coisas, me liberto,
navego a imensidão, me perco em desatino, recordo da minha rua,
antes deste desvio apressado, recordo da sala, onde
tudo sabíamos enquanto o almoço nos aguardava. Teu verso
ainda por ser escrito, e uma brisa leve e alegre nos tocava a pele.