um sopro de vida
Minhas mãos, outrora, em cárcere,
agora tremem, famintas pela fluidez de tua pelve,
essa curva aquosa, renascida a cada lua nova,
caminho banhado pelo sol, é um arrepio na pele
movimento pulsante, a carne viva, tremor, audaz
que nos assalta pelos olhos,
tua pele, essa alvura, esse desejo incontido,
suplica por um sopro, um alívio da violência desse anseio.
desejo que se camufla entre os lábios, nas mãos, no coração,
e derrama seu incêndio no assoalho mais secreto,
eu, uma chama errante por campos noturnos, alumiando
os seixos, o chão informe, a relva ondulada em noite que triunfa
sob a falange da lua, observador dos astros,
e o terror se esvai, diluído na escuridão.
Reconheço então o espasmo, repercutido dentro tempo,
uma estrada de espanto, cativo,
e tua ausência, essa fragrância que vaga sem destino,
sem o lastro que lhe diria onde o teu nome está inscrito, então,
me percebo, perdido, mal tocando a borda das coisas,, precoce,
na cortina, no limiar onde a existência se converte em verbo.
Aqui, neste lugar, onde o silêncio fala,
e cada palavra é um abismo,
caminho, eu, sombras à procura de uma luz,
movido por um desejo maior que o medo,
na antecâmara do ser,
onde cada instante, ainda que imprevisível,
eu existo e tu existe, e nesse limite,
eternidade é a vida que é vivida