Princípio da Incerteza

Não é natureza morta o que contemplas na eternidade,

mas infinitos jogos de vitrais escuros,

vez em quando varridos por cintilações elétricas.

E somos nós, vagalumes de árvore de natal,

os que fechamos o circuito.

Abriste um rasgo de incerteza na textura do real,

imensidão sideral que deixa Arcturo brilhar;

o hiato paterno, amoroso, que espera o filho falar.

Eis Tua bondade suprema:

Amor sem risco , não há.

Não pingaria o Espírito, mansamente, sobre nós

influxos dulcíssimos de acima do sol -- não fosse

a porosidade salvífica do manto que bordaste.

Debaixo dele...

Alguém pode ser Pessoa.

Não é teatro de bonecos o Teu mundo;

Nossa aventura não é ficcional; o Teu Olhar não quebra

a dignidade, nem apaga o pavio que fumega:

Sim, do rio da vida, claro ou tenebroso,

somos Fonte.

Serias Tu o Autor de um mundo sem graça? Ora,

mas Alegria é achar Graça na vida... -- Criarias, Abba,

filhos que não te pregassem peças? Então, no céu

como sorririas, sem teres estrelas

(que também sabem rir...)

Quando saber demais é amar de menos...

eis a Doutíssima Ignorância. Espaço lógico bendito

onde Tua Luz depara, no alvorecer do sexto dia,

com brotos livres florescendo...

no ponto-cego da retina.

J C B Camerini
Enviado por J C B Camerini em 22/04/2024
Reeditado em 05/05/2024
Código do texto: T8046951
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