Princípio da Incerteza
Não é natureza morta o que contemplas na eternidade,
mas infinitos jogos de vitrais escuros,
vez em quando varridos por cintilações elétricas.
E somos nós, vagalumes de árvore de natal,
os que fechamos o circuito.
Abriste um rasgo de incerteza na textura do real,
imensidão sideral que deixa Arcturo brilhar;
o hiato paterno, amoroso, que espera o filho falar.
Eis Tua bondade suprema:
Amor sem risco , não há.
Não pingaria o Espírito, mansamente, sobre nós
influxos dulcíssimos de acima do sol -- não fosse
a porosidade salvífica do manto que bordaste.
Debaixo dele...
Alguém pode ser Pessoa.
Não é teatro de bonecos o Teu mundo;
Nossa aventura não é ficcional; o Teu Olhar não quebra
a dignidade, nem apaga o pavio que fumega:
Sim, do rio da vida, claro ou tenebroso,
somos Fonte.
Serias Tu o Autor de um mundo sem graça? Ora,
Alegria é achar Graça na vida... -- Criarias, Abba,
filhos que não te pregassem peças? Então, no céu
como sorririas, sem teres estrelas
(que também sabem rir...)
Quando saber demais é amar de menos...
Eis a Doutíssima Ignorância! Espaço lógico bendito
onde Tua Luz depara, no alvorecer do sexto dia,
com brotos livres florescendo...
no ponto-cego da retina.