Carta de um Não Pai
Filho,
Se puder, um dia chore
Dentro de um quarto escuro e vazio
Escute o que não digo e ore
Por esse velho tolo de olhar sombrio
Filho,
Talvez você não me entenda
Talvez a gente nem tenha essa conversa
E não sobre mais que a lenda
De uma vida que virou uma esquina diversa
Filho,
Talvez você fosse grande e bonito
Com certeza seria bem mais forte
E nos seus olhos guardaria o infinito
E por amá-lo tanto, eu temeria a morte
Filho,
Perdoe esse homem tão torto
Tão amargo quanto o sangue envenenado
Esse homem que sabe estar morto
E não te deixará a dor de não ter voltado
Filho,
Desculpe meu silêncio intenso
E eu não estar lá para a gente jogar junto
Eu quero te dar a chance de um futuro imenso
E alguém melhor que te amará muito
Filho,
Um dia a aurora virá silente
Entrar pela janela e a gente sai
Você, sem ter nascido, ainda será gente
Eu me redimo em nunca ter sido pai