Carta de um Não Pai

Filho,

Se puder, um dia chore

Dentro de um quarto escuro e vazio

Escute o que não digo e ore

Por esse velho tolo de olhar sombrio

Filho,

Talvez você não me entenda

Talvez a gente nem tenha essa conversa

E não sobre mais que a lenda

De uma vida que virou uma esquina diversa

Filho,

Talvez você fosse grande e bonito

Com certeza seria bem mais forte

E nos seus olhos guardaria o infinito

E por amá-lo tanto, eu temeria a morte

Filho,

Perdoe esse homem tão torto

Tão amargo quanto o sangue envenenado

Esse homem que sabe estar morto

E não te deixará a dor de não ter voltado

Filho,

Desculpe meu silêncio intenso

E eu não estar lá para a gente jogar junto

Eu quero te dar a chance de um futuro imenso

E alguém melhor que te amará muito

Filho,

Um dia a aurora virá silente

Entrar pela janela e a gente sai

Você, sem ter nascido, ainda será gente

Eu me redimo em nunca ter sido pai

João V Zibetti
Enviado por João V Zibetti em 20/04/2024
Código do texto: T8045876
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