BERRO
Berro em tom bem alto,
guturalmente
o grito de um primata
que se balança
no arvoredo
em densa mata
Berro à natureza,
aos quatro ventos
às marés...
Berro aos sopés
dos montes,
nas campinas
e berro nas cidades,
nas esquinas
botequins...
Berro porque sinto
a dor da humanidade,
das galés...
e porque tenho na pele
as cicatrizes
os lanhos
dos chicotes
e o olhar de pânico
mecânico
dos campos
de extermínio
Berro e o grito solto
tenebroso
e dolorido
sai da alma
cobre-me o corpo
e todos os sentidos...
Berro a solidão dos dias-cinza
o frio das estepes
e do deserto o ardor...
berro porque sinto
o preconceito
o desespero,
a vergonha
e a dor
Berro porque sinto
o impacto do mundo
e o peso dos segundos
berro, enfim,
a imensa solidão
da eternidade
e exorcizo a saudade
que há em mim...
BH - 10.05.04