Palavras
O que comporta uma palavra
Senão um universo inteiro
Em linhas elegantes, ornamento
Tal qual flores que colorem dias cinzentos
De todo sentir que se quer dizer
Cabe um mundo numa palavra só
O pensamento ao avesso
Rebento da alma
Às vezes, também o nó
O exclamar do caos, ora calma
Sem contexto, certamente, confusão
Palavra solta: ora diz, ora não
Quando encontro, é poesia
Metáforas bailantes
Literalidades cortantes
Falar com as mãos é certa ousadia
Grandes palavras tímidas
Pequenas, dizentes em demasia
Leves, tais quais as plumas
É certo que palavra é cura
E também o pesar da amargura
E navalha impiedosa, decerto também é
Mas há singeleza em seu tecer
E também há primor
Há meias palavras que se querem dizer amor
E há desamor em palavras e meias
Há palavras inaudíveis, tecidas no olhar primeiro
Papéis em brancos, inescritos, mudos
E sentidos dispostos a falar
Há palavras por todo canto
Que dizem nada e dizem tanto
O que comporta, então, uma palavra
Senão um universo inteiro?