O NOME DELE ERA "NINGUÉM"
Saiu de casa sem nada
a idade já avançada
com a saúde debilitada
foi sobreviver nas ruas
marreteiro clandestino
no frio ou no sol a pino.
Perdido dentro de si
esqueceu o rumo de casa
e não fez falta alguma
dormia em albergues
verdadeiros icebergs
solitário e depressivo
se usava antidepressivo
ninguém queria saber
sua terapia era beber.
Prostrado diante de Deus
querendo ser destruído
implorou para morrer.
Eu o saudava todos os dias:
Professor, tenha um bom dia!
O nome dele eu não sabia
nem me interessava em saber
fiquei sabendo depois dele morto
quando ele pulou de um viaduto.
Geraldo Bispo era o seu nome
ninguém por ele ficou de luto
Geraldo não tinha ninguém
morreu atrapalhando o trânsito
corpo estendido na via expressa
entre carros de passeio e furgões
todos comprometidos com a pressa
buzinaços, xingamentos e palavrões.
Foi enterrado como indigente
em uma cova rasa certamente
de algum cemitério decadente
de uma zona qualquer da cidade
amortalhado pela insensibilidade
de uma desumanizada sociedade.
Autor: Benedito Morais de Carvalho (Benê)
10 de setembro
Dia mundial de prevenção ao suicídio