APETITES & APETÊNCIAS
Voltei à poesia
de onde nunca parti
Teve tempos em que andei distraído
outros em outras coisas envolvido
e fui cuidar da vida
já que a vida não cuidava de mim
Casei-me
terminei a faculdade
tornei-me pai
professor e psicólogo
mas o poeta jamais saiu
do interior abismal e profundo
em que aqui me encontro
toda vez que esbarro comigo
ou quero retornar às raízes do meu umbigo
Florbela Espanca já disse que ser poeta
é aquele que morde feito quem beija
por isso vivo abocanhando versos
mordiscando o invisível do tempo
petiscando os dias e o ambiente
dentando cotocos de memórias
e lambiscando as salivas dos sonhos
nos lábios da mulher que me beija
Manduco
mordo
engulo
devoro
degluto
e me nutro
para depois devolver à vida
os versos que dela comi
Adélia Prado já disse
que não quer faca, nem queijo
o que ela quer é fome
Minha fome tem o tamanho do Infinito