APETITES & APETÊNCIAS

Voltei à poesia

de onde nunca parti

Teve tempos em que andei distraído

outros em outras coisas envolvido

e fui cuidar da vida

já que a vida não cuidava de mim

Casei-me

terminei a faculdade

tornei-me pai

professor e psicólogo

mas o poeta jamais saiu

do interior abismal e profundo

em que aqui me encontro

toda vez que esbarro comigo

ou quero retornar às raízes do meu umbigo

Florbela Espanca já disse que ser poeta

é aquele que morde feito quem beija

por isso vivo abocanhando versos

mordiscando o invisível do tempo

petiscando os dias e o ambiente

dentando cotocos de memórias

e lambiscando as salivas dos sonhos

nos lábios da mulher que me beija

Manduco

mordo

engulo

devoro

degluto

e me nutro

para depois devolver à vida

os versos que dela comi

Adélia Prado já disse

que não quer faca, nem queijo

o que ela quer é fome

Minha fome tem o tamanho do Infinito

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 16/04/2024
Reeditado em 16/04/2024
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