O LUGAR DA TERRA DO NUNCA
Há um lugar na infância
em que as crianças não morrem
e tudo ali está do mesmo modo
como estava antes de dormirmos
Neste local imortalizado do passado
brinquedos nunca enferrujam
todo dia é dia de brincadeira
os adultos não envelhecem
e ninguém de lá desaparece
Relógios são enfeites nas paredes
ou adorno que os homens usam
para disfarçar que não são crianças
ou para ocultar de nós suas infâncias
Onde as infâncias são perpétuas
o chão tem o brilho dos assoalhos
encerrados com ceras de carnaúba
e no céu há tantas estrelas quanto anjos
Neste sítio dos infindos perenes
os palatos têm sabores açucarados
como os pudins de leite condensado
que as avós serviam logo após
aos almoços prolongados de domingo
Este lugar imperecível e imutável
fica nas profundezas da camada externa
onde os neurônios jamais descansam
e conversam tagarelas entre si
pois a meninice é um lugar distante
em que as lembranças fofocam
as histórias travessas e traquinas
que fazem as crônicas imorredouras
inscritas nos anais arquivados da infância