O LUGAR DA TERRA DO NUNCA

Há um lugar na infância

em que as crianças não morrem

e tudo ali está do mesmo modo

como estava antes de dormirmos

Neste local imortalizado do passado

brinquedos nunca enferrujam

todo dia é dia de brincadeira

os adultos não envelhecem

e ninguém de lá desaparece

Relógios são enfeites nas paredes

ou adorno que os homens usam

para disfarçar que não são crianças

ou para ocultar de nós suas infâncias

Onde as infâncias são perpétuas

o chão tem o brilho dos assoalhos

encerrados com ceras de carnaúba

e no céu há tantas estrelas quanto anjos

Neste sítio dos infindos perenes

os palatos têm sabores açucarados

como os pudins de leite condensado

que as avós serviam logo após

aos almoços prolongados de domingo

Este lugar imperecível e imutável

fica nas profundezas da camada externa

onde os neurônios jamais descansam

e conversam tagarelas entre si

pois a meninice é um lugar distante

em que as lembranças fofocam

as histórias travessas e traquinas

que fazem as crônicas imorredouras

inscritas nos anais arquivados da infância

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 15/04/2024
Reeditado em 15/04/2024
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