Estar vivo é se perder a todo instante

Sou um cervo perdido em seu próprio bosque. Outrora conhecido e tão familiar, que mesmo em noites profundamente escuras sem lua ou estrelas,

Podia-se ver os morangos silvestres, os insetos ainda acordados, ou o olhar das árvores - hoje nada aqui parece sorrir, e com profunda melancolia

Repouso minha cabeça sobre uma pedra e tento em sonhos regressar ao lugar que pertenço.

Este mundo é mesmo perigoso e belo e eu não sei contudo, seu destino final - o destino de todos nós.

Isso me consome e me angustia.

Agora meus olhos adormecem calmos e minha mente está inquieta. Eu não renuncio os pensamentos.

O pensamento profundo precede a angústia

E após a profunda angústia vem a reflexão

Mas no instante em que estamos angustiados

Só sabemos e podemos sentir.

Espero um dia reconhecer as mesmas faces que me rondam

O mesmo riacho em que satisfiz minha sede

As mesmas flores que nos caminhos por cima passei;

Reconhecer o mesmo céu que separa o etéreo do real,

O limitado do que não se pode mensurar - então eu saberei de onde vim e para onde irei -

Por enquanto somente, cravo meus pés

Nas nuvens de meus delírios fantásticos

Sendo um cervo calmo em apenas aparente razão e impressão, que não se satisfaz com as perguntas que consigo mesmo faz

Na angústia do nada saber que aprisiona-me

No instante em que estou descansando em paz ou correndo em direção ao sol do meio dia

Ou perdendo tragicamente e belamente a vida

Nos oceanos das reminiscências espirituais -

Estar vivo é se perder a todo instante.

Ligeia Amanna
Enviado por Ligeia Amanna em 13/04/2024
Código do texto: T8041018
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