CARTA EM VERSOS
Primavera de 1986
Oi Dalton
Iridescente
Acho essa palavra tão linda
Da minha janela vejo o sol se por no mar
Estou longe, voando, para lá da poesia
Frio, fumaça pela boca
Abraço quentinho, carinho
Cabelo molhado
A chuva afogando
Minhas lentes de contato
Contato, com pessoas
Simples
Com poesia
Você é todo poesia
Fala o tempo todo
Meio louco
Mas eu gosto
Meio ilógico: Filósofo
Você de óculos
Molhado também
Tá rindo?
Não sei de quem
E a gente correndo
O fôlego morrendo
Ei, o ônibus não vem
Você vai chegar atrasado
Não importa, estou do teu lado
Na próxima vez
Vou preferir a feijoada
Mesmo que seja enlatada
Não fique assim
A comida não estava tão ruim
E aquela sobremesa de pudim
Gostei das músicas
Do pão espalhado no chão
Eu e você
Que emoção
Tô morrendo de saudade
Você não?
E a aula de História?
Como vai a constituinte?
Constituída
Falida
O negócio é o seguinte
Não gosto de Política
Vamos mudar de assunto?
Que tal falarmos do mundo?
Todo o mundo?
Claro que não, paixão
A ilha está cheia de sol
De calor
Eu te disse que ela se chama
"A Ilha do Amor"?
Que lindo
Você está sorrindo?
Gosto de você sorrindo
E aí tirou a barba?
Quero um dia te ver sem ela
Ah, por quê?
Porque sim
Fiquei afim
Só isso
Sem compromisso
Estou assistindo uma aula agora
Só que estou voando lá fora
Bem distante
Sobre o sul do país
Acho que estou feliz
Mas morrendo de saudade
Vou te telefonar numa tarde
Quero saber mais sobre o grupo de poesia
Tem uma pessoa que também escreve
Eu te falo sobre ela em breve
Vou te mandar o que escrevo
Não vou mais fazer segredo
Você pode mostrar
Se gostar
A inspiração está de volta
Reviravolta
Estou escrevendo
Rimando
Sonhando
Minha alma de poeta longe voa
Que vida boa
No peito bate forte o coração
O Luiz Carlos diria: "um tesão"
No bom sentido
É pura emoção
Uma saudade gostosa
Filosofa
Uma promessa no ar
Quando Dezembro chegar
Tanta coisa pra falar
Nem sei como terminar
Ou mesmo começar
Um beijo
Tica