chapados com drogas de amor

amanheço nas brisas

da manhã com sopros

gelados do vento

nas folhas de outono

caindo na calçada

a gata que rosna

entre minhas pernas

seus olhos âmbar

fixam nos meus

as camisas de botão molhadas

e os sapatos desamarrados

o mantra saudando

a calma do novo dia

o cheiro de ovos mexidos

o beijo de bom dia

o chá gelado das sete

que ainda nem

bateu o despertador

o tilintar dos talheres

e a cortina

abrindo para entrar o sorriso

a fumaça do incenso

o banho gelado

a vida acontecendo

nas veias

a gata deixa pelos

espalhados pela casa

ficam as plantas

os sons

as cores de azul

os quadros pintados a mão

a dança que nunca acabou

e o movimento dos pássaros fazendo seu ninho

o acasalamento das samambaias

o cheiro dos seus cabelos soltos no ar

a terra molhada

o riso solto

e o amanhecer

a dança que começou

o cheiro de incenso

e o toque de amizade

a leve brisa sacudindo a rede

faz lembrar os entardeceres

e o abraço apertado

os almoços de domingo

a serenata para a minha avó

a canjiquinha que queimou no forno

a palavra mal dita

o beijo de boa noite

e a prece sonolenta

antes de dormir

a chuva levantando cheiro

de terra no ar

e o balanço das crianças no parquinho

o banho na cachoeira

a dança no meio da chuva

lembranças de um sorriso ligeiro

café quentinho

meias de algodão

lua nova no céu

a poesia que nunca acabou

e que agora vira versos

chapados com drogas de amor.

Késia Gomes
Enviado por Késia Gomes em 10/04/2024
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