chapados com drogas de amor
amanheço nas brisas
da manhã com sopros
gelados do vento
nas folhas de outono
caindo na calçada
a gata que rosna
entre minhas pernas
seus olhos âmbar
fixam nos meus
as camisas de botão molhadas
e os sapatos desamarrados
o mantra saudando
a calma do novo dia
o cheiro de ovos mexidos
o beijo de bom dia
o chá gelado das sete
que ainda nem
bateu o despertador
o tilintar dos talheres
e a cortina
abrindo para entrar o sorriso
a fumaça do incenso
o banho gelado
a vida acontecendo
nas veias
a gata deixa pelos
espalhados pela casa
ficam as plantas
os sons
as cores de azul
os quadros pintados a mão
a dança que nunca acabou
e o movimento dos pássaros fazendo seu ninho
o acasalamento das samambaias
o cheiro dos seus cabelos soltos no ar
a terra molhada
o riso solto
e o amanhecer
a dança que começou
o cheiro de incenso
e o toque de amizade
a leve brisa sacudindo a rede
faz lembrar os entardeceres
e o abraço apertado
os almoços de domingo
a serenata para a minha avó
a canjiquinha que queimou no forno
a palavra mal dita
o beijo de boa noite
e a prece sonolenta
antes de dormir
a chuva levantando cheiro
de terra no ar
e o balanço das crianças no parquinho
o banho na cachoeira
a dança no meio da chuva
lembranças de um sorriso ligeiro
café quentinho
meias de algodão
lua nova no céu
a poesia que nunca acabou
e que agora vira versos
chapados com drogas de amor.