ATRAVESSADO A BARREIRA DOS RELÓGIOS
Não suporto viver somente no presente
necessito das lembranças e dos sonhos
das saudades e dos desejos
dos aguardos e dos meus sumidos
Um presente sem passado é apenas início
e num começo sem amanhã estaria perdido
Sei que no agora eu existo e respiro
mas de que adiantaria morar no hoje
sem o antes e depois para me dar sentido?
Todo dia embargo em meu ônibus comigo
tendo vezes em que vou para o ontem
revisitar tudo que me foi desaparecido
outras vezes atravesso a barreira dos relógios
e vou me encontrar no futuro para pensar
neste presente há tão pouco tempo vivido
Meus pensamentos e meus anseios
minhas recordações e meus intentos
minhas reminiscências e meus devaneios
são trilhas que percorro andarilho
no mapa que trago no bolso esquerdo
no interior da pele da roupa que sempre visto
Meu presente não é neutro
e nada em mim é imune ou isento
pois em tudo que olho, ouço e toco
tem as digitais implacáveis do tempo
O presente em que vivemos
é uma estrutura orgânica que nos mantém vivos
e porque estou vivo memorizo, evoco e aspiro