ATRAVESSADO A BARREIRA DOS RELÓGIOS

Não suporto viver somente no presente

necessito das lembranças e dos sonhos

das saudades e dos desejos

dos aguardos e dos meus sumidos

Um presente sem passado é apenas início

e num começo sem amanhã estaria perdido

Sei que no agora eu existo e respiro

mas de que adiantaria morar no hoje

sem o antes e depois para me dar sentido?

Todo dia embargo em meu ônibus comigo

tendo vezes em que vou para o ontem

revisitar tudo que me foi desaparecido

outras vezes atravesso a barreira dos relógios

e vou me encontrar no futuro para pensar

neste presente há tão pouco tempo vivido

Meus pensamentos e meus anseios

minhas recordações e meus intentos

minhas reminiscências e meus devaneios

são trilhas que percorro andarilho

no mapa que trago no bolso esquerdo

no interior da pele da roupa que sempre visto

Meu presente não é neutro

e nada em mim é imune ou isento

pois em tudo que olho, ouço e toco

tem as digitais implacáveis do tempo

O presente em que vivemos

é uma estrutura orgânica que nos mantém vivos

e porque estou vivo memorizo, evoco e aspiro

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 09/04/2024
Reeditado em 09/04/2024
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