O Vazio
Quando pintava, fiz uma tela
chamada "O vazio"
Tratava-se de três formas negras
uma sobre a outra
em três tons de preto que se distinguiam
não pela tonalidade, mas pelo tipo do material.
Era um exercício reflexivo:
Como a tela poderia estar vazia
Se estava preenchida
De Nada?
Era um esforço para dizer que o nada preenche o vazio,
que a cor preta, embora seja ausência de cor,
tem substância de tinta
e preenche a tela.
Que o nada tem substância.
Mas o nada não preenche o vazio
O nada o amplia, o alarga
O nada arromba o vazio.
O vazio nadifica,
O nada esvazia,
E sobra o oco.