PARA QUE SERVE A POESIA?
“POESIA NÃO COMPRA SAPATOS”
"A poesia não compra sapatos. Mas como é possível caminhar sem poesia" (Emmanuel Marinho)
Poesia não compra sapatos,
Nem paletó, nem camisa;
Mas como viver neste mundo
Sem sentir poesia na brisa?
Poesia não compra sapatos,
Nem compra calça comprida,
Mas como, sem poesia,
Viver a beleza da vida?
Poesia não compra sapatos,
Para que ela serve, então?
É bola jogada pro mato?
É tempo gastado em vão?
Poesia não compra sapatos,
Não rende um lucro sequer;
Mas retrata — sublime — o amor
De um homem por uma mulher.
Poesia não compra sapatos,
Mas pinta a beleza da lua,
Retrata o esplendor da aurora
Quando o dia amanhece na rua.
Poesia não compra sapatos,
Mas traduz a emoção de viver;
O deslumbre, o encanto exato,
Quando as rosas vêm florescer.
Poesia não compra sapatos,
Mas evola a beleza do mar,
Quando as espumas das ondas
Vêm a areia da praia beijar.
Poesia não compra sapatos,
Mas traduz o brilho do olhar;
É recurso do apaixonado,
Quando quer seu amor conquistar.
Poesia não compra sapatos,
Mas conquista o melhor dest' vida;
Traduz um amor verdadeiro,
Com emoção sem medida!
AS PALAVRAS
As palavras estavam soltas,
Aleatórias,
Desgovernadas...
Eu só fiz juntá-las.
As palavras-peixes
Nadavam livres
Em águas claras,
Em rios perenes...
Eu só fiz pescá-las.
Na floresta das palavras
Quanta matéria prima!
Cacei versos,
Cacei rimas,
E fiz poemas.
Agora te ofereço
O meu pacote
De palavras juntas,
Chamado livro.
São palavras presas
Em páginas brancas,
São palavras pássaros
Que ainda cantam.
O POEMA APRESSADO
O poema não espera pelo poeta...
Ele, apressado, quarteirão à frente,
Corre pela cidade, solto... Feito gente!
E se confunde e nos confunde;
O poema é multidão...
E de repente ele sorri
Na minha mão!
Verso após verso o edifico,
Como arquiteto da imperfeição,
O poema que nasceu no ruge-ruge
E morrerá de solidão.
QUANDO CHOVEU POESIA
Quando choveu poesia
Saí na chuva dançando.
Alguém olhava e dizia:
Será que está endoidando?
Quando choveu poesia
Vieram logo zombando:
Mas que chuva é essa na via
Que não está me molhando?
Que chuva é essa que chove,
Que não se pode enxergar?...
O poeta então lhe responde,
Com amor e paixão no olhar:
"Essa chuva de alegria
Que não chove sobre o chão,
É chuva de poesia
Que chove em meu coração!"
CHUVA DE POESIA
Chove chuva choradeira,
Chove, chove sem parar!
Chove o dia, a noite inteira,
Que quero em ti me banhar!
Chove chuva de poesia,
Sobre o dia de Pilar,
Na noite de Itabaiana,
Chove por todo o lugar!
Chove chuva de alegria
Nos versos que vou cantar;
Chove rimas na poesia
Que desejo versejar!
Vem lavar minha tristeza,
Lava a lágrima do olhar;
Vem dar vida à natureza,
Ao bosque do meu sonhar!
Chove, chuva de poesia,
Chove, chove sem parar;
Chove a noite, chove o dia,
Que quero em ti me banhar!
O POEMA ESQUECIDO
Do primo verso não sei.
Do segundo me esqueci...
O terceiro... Onde guardei?
O quarto verso perdi!
Era um soneto bonito!
O melhor por mim já feito.
Mas seus versos, admito,
Restaurar não tem mais jeito!
Só restou-me a sensação
Do prazer, da emoção,
De tê-los um dia escrito...
Mas o destino não quis
Fossem de um vate aprendiz
E lhes jogou no infinito!
TINHA UM POEMA ESCRITO NO MURO
Tinha um poema escrito no muro,
Tinha um poema escrito no muro,
Tinha um poema escrito... Eu juro!
Como uma estrela brilhando no escuro,
Como uma semente abrindo o chão duro,
Como uma ‘sperança apontando o futuro,
Como um conselho pro jovem imaturo,
Como u’a placa pro caminho seguro,
E como um grito livrando de apuro.
Tinha um poema escrito no muro,
Tinha um poema escrito no muro,
Tinha um poema escrito... Eu juro!
A VOZ DA POESIA
Não sei por que razão a nostalgia
Insiste bater palma em minha porta,
Quando o sol os meus olhos alumia,
Despertando u’a lembrança quase morta.
Não sei por que razão uma alegria
Inda traz um sorriso à boca torta;
Quando vejo na manhã do novo dia
Um fio de esperança que conforta.
De repente minha alma fica pasma,
Quem bateu em minha porta? um fantasma
Ou o vento passageiro, sem resposta?...
Então ouço uma voz, em melodia,
Falando na brisa do novo dia:
"Sou eu — a Poesia — Antonio Costta!"
SER POETA
É a vida que me ensina,
O amor - que me completa;
A emoção me determina
Fazer versos, ser poeta.
Mesmo se não for concreta
A poesia que hora faço,
Escrever é minha meta,
Todo dia, neste espaço.
Creio eu, na dimensão,
Talvez seja vocação
Meu desejo de escrever...
Toda beleza incontida
Das simples coisas da vida,
Essência pura do ser.
SER POETA NA VIDA
Vai, meu filho, ser poeta na vida!
Falou-me meu pai com brilho no olhar.
Depois uma lágrima eu vi rolar
Pela fronte serena. Envelhecida.
Meu pai que me dera amor e guarida
E que me ensinou a andar e falar,
Também pretendia me ensinar a voar
Pra desfrutar dos prazeres da lida!
Mas de uma coisa meu pai se esqueceu,
Foi de avisar-me que este mundo é ateu,
-Que em nossos sonhos, jamais acredita...
Todavia meu pai, sempre confiante,
Incentivava-me por todo instante...
-Vai, meu filho, ser poeta na vida!
QUE FAZES DE TEUS VERSOS, Ó POETA?
(Interagindo com o poeta Herculano Alencar)
Que fazes de teus versos, ó poeta,
Pra serem impregnados de beleza?
Coloridos com a cor da natureza,
De poesia singular e mais concreta.
Que fazes de teus versos, ó poeta,
Espontâneo, mas de grande erudição?
Que parece a sinfonia da canção
Mais bem aventurada e mais completa.
Onde buscas por tanta inspiração
Pra compor belos versos de paixão
Muitas vezes guiados pela dor?...
"-Eu finjo que enxergo o que não vejo,
Acendo a lanterna do desejo
E assim posso enxergar na escuridão."
A REALIZAÇÃO DO POETA
Quando os versos escritos do poeta,
Num momento de alegria ou de dor,
Unirem-se com a alma do leitor
A poesia, então, ‘stará completa.
Quando os versos escritos do profeta
Que anuncia para o mundo mais amor,
Forem lidos como cheiram uma flor,
Teremos, pois, cumprido a nossa meta.
Ah!... quando os versos plenos de ideais
Provocarem no mundo amor e paz,
Cumprirão, totalmente, seu destino...
De ecoar em prol do bem, contra o mal,
Como um cântico em marcha triunfal
Que se fez retumbante como um hino!
DIA DO POETA
Hoje é dia de festejo, de alegria,
Hoje é dia especial, singular;
Hoje é dia de quem ama a poesia,
De quem vive p’lo mundo a versejar!
Hoje é dia da palavra em primazia,
Hoje é dia de cultura universal;
Hoje o dia é de amor, de nostalgia,
Pois hoje o dia ele é sentimental!
Hoje o dia é de pura melodia,
Concebida com toda maestria
Para a musa dos sonhos, predileta...
Sim, deveria ser festa em todo mundo!
Mas quem reconhece o valor profundo
Do dia, imensurável, do poeta?!...
***
A poesia é o instrumento que uso
para propagar meus pensamentos.
***
A poesia
que não faz pensar
não é poesia.
***
Só rompo a lápide do silêncio
quando a poesia aflora
meu pensamento.
***
A poesia revela-se nas entrelinhas do poema.
***
A poesia transcende o beletrismo das palavras;
ela pode manifestar-se até mesmo
no mais absoluto silêncio de um olhar.
***
Um corpo sem alma é um corpo sem vida;
assim é um poema sem poesia.
***
Não concordo que o poeta seja um fingidor.
Para mim o poeta tem a missão
de cantar a realidade da vida.
***
Escrever poesia é emoldurar sentimentos
com a linguagem do coração.
***
O encantador de palavras
tem o poder de transformá-las em poesia.
***
Uma vida sem surpresas é uma vida sem poesia.
***
Uma vida sem poesia
é uma vida sem encanto algum.
***
Quando nada mais nos surpreende
na vida... — acabou-se a poesia!
***
Só os poetas têm o poder de contemplar
a poesia jorrando do nada.
***
O maior encanto do mundo
é o descobrimento da poesia.
***
A poesia é como um bálsamo
neste mundo em decomposição.
***
Quando a poesia explode,
não causa terror,
não mata ninguém...
— é vida, esplendor,
é chuva de amor,
melodia do bem!
***
O verdadeiro poeta não sobrevive de poesia;
sobrevive de sonhos.
***
Quando a poesia se cala, o poeta engaveta-se.
***
Podemos encontrar poesia até numa pedra;
porém nunca num poema mal feito.
***
O bom poeta é zeloso com as palavras,
mesmo quando fica em silêncio.
***
A poesia é um segredo
que o poeta resolveu revelar para o mundo.
***
A poesia às vezes se encontra
em uma folha seca que caiu
de uma árvore florida.
***
Não se iluda,
pois nem todo poema tem poesia
como nem toda poesia
é necessariamente um poema.
***
O poeta tolo anda mais preocupado
com o reconhecimento de seus versos
do que com o primor de seus poemas.