Liames de ferro
Em tua palma aberta, desenha-se um lago,
profundo, onde as linhas murmuram segredos de tua alma.
As margens recebem as ondas, que ao colidirem com
as pedras, fragmentam-se, e em teu semblante descubro
o mapa de teu espírito. Sou homem, contudo, me extravio
na geometria de teu ser, tu és cosmos,
tua cintura, teus relevos onde tua boca revela
universos inexplorados, e tuas pernas, vias
que nos guiam a uma cidade tecida de temores.
Teus seios, suspensos como luas ao entardecer, declinam
e venero teu lábio, arco sublime, onde tua língua
impulsiona o curso das águas. Ao abrir a janela,
o infinito se desdobra como um enigma,
não existe despertar, somente a sinfonia
dos desejos esquartejados de sua alma.
Aspiro, tua pele, veneno que se entrelaça,
fragrância de terra sob a chuva, gotas densas
de uma tempestade em hesitação. Sorvo-te e em meus ossos,
ressoa o eco de tua partida. A poesia me ofusca,
e de repente, transformas-te, ainda que entre as chamas
te percebo, tua natureza de guerreira expurga-me
dos pecados, desde que me levantei da sombra daquela pedra,
desde que aquela árvore se manifestou com seus liames de ferro.