UM POEMA DE OUTONO

Mergulham no cinza os dias,

O mundo está descontente,

O sol se esconde de repente,

Foi-se o verão de alegrias.

Lá fora, o frio vento sibila.

A noite tem o véu da neblina

Amanhece e começa a rotina

Da gente que não vacila

Diante de intempéries loucas.

Encasacada vai cumprir a sina,

Debaixo de chuva úmida e fina

Das obrigações que não são poucas.

Bem-te-vi que a cantar vivia,

Banhando-se na água da nascente,

Esconde-se da chuva intermitente,

Lágrimas que o céu escondia.

Despem-se, lentas, as árvores belas,

Suas vestimentas mais antigas,

Espalham suas folhas amigas

Que se vão ao sabor das procelas.

Quem se abrigava à sombra delas

Para aliviar o calor, as fadigas,

Vê seus braços nus sem as cantigas

Dos bem-te-vis tagarelas.

Mas, o outono tem seu encanto,

É tempo de sopa quente, de carinho,

É estação que encurta o caminho

Da volta ao lar que se ama tanto.

26/03/05.