solidão
A noite se desdobra em uivos,
a solidão, essa vastidão, se revolta.
Suspenso em um fio de tempo corroído,
meus pés tateiam o abismo,
buscando um apoio na escuridão palpável.
Num instante, um lampejo de verdade:
o tempo, em ruínas, se rende ao seu próprio peso.
Diante de nós, portas se abrem para o infinito,
caminhos que se enrolam sobre si mesmos,
nos levando de volta à estrada exaustiva
que nos consome, enquanto braços vacilam
e a boca se amarga com o gosto de aventuras
consumidas por vórtices de medo,
em uma linguagem que falha em nos salvar.
A rebeldia surge, o medo de cair
com as máscaras que ainda temos para dançar.
Um relicário desdobrado ainda oferece refúgio,
somos muitos, mas no fundo, somos sós,
diante do tremor de palavras incertas.
Que a porta entreaberta se feche,
enquanto amores desfloram caminhos
que se dissolvem na memória,
num torpor de momentos iluminados,
lembrança de uma alegria já marcada pelo fracasso.
À beira do céu, ou na varanda
onde o amor materno me alimentava,
envolto na esperança, no divino
desconhecido, mas sentido como cotidiano,
um fogo brilha em cada olhar.
Mas é na solidão, essa fera indomável,
um nascimento sempre inacabado, que persiste
e nos diminui. Antes mesmo da sombra mais escandalosa,
ela já me consumia, mesmo sem nome aos olhos da carne.
Respiro fundo: a solidão, esse fruto destronado,
e o chão, essa realidade fantasmagórica,
revela seu núcleo mais temeroso e desgastado.
Um anfíbio bêbado e viscoso tropeça,
desfibrilando o entorno, e o outro,
sempre mais estranho, amplia o vazio.
Tudo se torna vasto, absoluto, sem medida.
Uma nova presença se revela, acalmo minha fúria,
liberto-me do combate, acolho-a, ovelha e pastora.
E na distração, ela é tão bela quanto uma santa.
A alcateia emborcada para o escuro berra,
solidão solta sua revolta.
Aflito, pendurado no arame enferrujado,
busco com os pés uma ponta de pedra
que me sustente à beira da coisa assombrosa.
Em um lapso, exíguo latejo de verdade,
tempo já desmoronado aceita seu cansaço.
Vemos portas, trajetos sem fundo,
que retornam à mesma estrada longa
que nos desfalece, braços tremem,
boca amarga das aventuras
verteram-se em vórtices de medo,
linguagem não ampara.
Rebeldia vem à tona, o receio
de que o solo ceda com as faces,
tantas elas, ainda para dançar.
Relicário desdobrado ainda socorre,
somos tantos, apenas nós, impasse,
tremor da palavra incerta.
Que se feche a porta entreaberta,
amores todos ainda desvirginam passagens
evaporam na memória, torpor,
momentos iluminados para lembrar
nossa alegria já conhecia o fracasso.
Colocados à porta do céu, ou na varanda
onde o seio materno me nutria,
banhado na esperança, o sagrado
desconhecido, mas como se fosse diário,
presença de fogo em cada semblante.
Mas dela, essa solidão, cão indomável,
parto sempre inacabado que perdura
e nos acanha. Antes do tremor da sombra
mais escandalosa, já me consumia.
Respiro fundo, solidão é o fruto destronado,
e o chão, essa concretude fantasmagórica,
revelou seu caroço medroso e esgarçado.
Anfíbio ébrio e pastoso, engasga no andar
desfibrila o entorno, e o outro é mais um estranho.
Tudo se torna imenso, absoluto, sem tamanho.
Mais uma moradora se apresenta, calo minha sanha,
me destravo da luta, tenho-a comigo, ovelha e pastora.
E quanto distraio, é tão bonita como uma santa.
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A noite, um manto de uivos, desdobra-se em escuridão,
solidão, uma fera, solta a sua revolta no vazio.
Pendurado num fio de ferro, corroído pelo tempo,
meus pés buscam, aflitos, uma saliência de pedra -
um altar para o meu desespero na borda do abismo.
Num instante, um sopro, um latejar de verdade:
o tempo, despedaçado, cede sob o peso do seu próprio esquecimento.
Portas, abismos de retorno, abrem-se:
caminhos que nos devoram, nos regurgitam na mesma estrada exausta
onde nossos braços tremem e nossas bocas amargam
com o gosto de aventuras tragadas por vórtices de medo,
em uma linguagem que se desfaz, incapaz de nos sustentar.
A rebeldia emerge, o medo de que o chão se abra,
e com ele, as máscaras que ainda temos para dançar.
Um relicário, desdobrado, ainda nos oferece abrigo,
somos uma multidão, e ainda assim, somos apenas um,
frente ao tremor de palavras incertas.
Que a porta semiaberta se feche,
enquanto os amores, ainda por desflorar, desvanecem em cada passagem
que se evapora na memória, um torpor,
luzes momentâneas para recordar
que nossa alegria já estava marcada pelo fracasso.
Colocado à porta do céu, ou numa varanda
onde o amor maternal me alimentava,
envolto em esperança, no sagrado
desconhecido, mas vivido como cotidiano,
uma chama arde em cada olhar.
Mas é dela, a solidão, essa besta indomável,
um parto sempre incompleto, que persiste
e nos diminui. Antes mesmo da sombra mais escandalosa,
ela já me consumia, mesmo sem nome aos olhos da carne.
Respiro fundo: a solidão, esse fruto destronado,
e o chão, essa realidade fantasmagórica,
revela seu núcleo mais temeroso e desgastado.
Um anfíbio bêbado e viscoso tropeça,
desfibrilando o entorno, e o outro,
sempre mais estranho, amplia o vazio.
Tudo se torna vasto, absoluto, sem medida.
Uma nova presença se revela, acalmo minha ira,
liberto-me do combate, acolho-a, ovelha e pastora.
E na distração, ela é tão bela quanto uma santa.
A noite se abre em uivos, mergulha
na escuridão,
e a solidão, bicho selvagem,
grita sua revolta no vazio.
Suspenso num arame enferrujado pelo tempo,
meus pés procuram, desesperados,
um apoio na pedra -
um altar para o meu desespero
à beira do abismo.
Num piscar, um sopro,
um pulsar de verdade:
o tempo se esfacela,
sucumbe ao peso do esquecimento.
Portas se abrem, abismos que nos chamam
de volta,
caminhos que nos consomem e nos cospem
na mesma estrada cansada,
onde nossos braços tremem
e o gosto amargo das aventuras
engolidas pelo medo
se dissipa numa linguagem que falha
em nos segurar.
A rebeldia surge, o medo de que
o chão se abra,
e com ele, as máscaras que ainda
podemos usar para dançar.
Um relicário se abre, nos oferece refúgio,
somos muitos, mas no fundo, apenas um,
diante do tremor de palavras incertas.
Que se feche a porta entreaberta,
os amores não tocados desaparecem
a cada passo
que se perde na memória, um torpor,
momentos de luz para nos fazer lembrar
que nossa alegria já carregava o selo do fracasso.
À porta do céu, ou na varanda onde
o amor de mãe me alimentava,
envolto em esperança, no sagrado
desconhecido, mas vivenciado como o cotidiano,
um fogo arde em cada olhar.
Mas é dela, a solidão, essa fera indomável,
um nascimento sempre incompleto, que persiste
e nos diminui. Antes mesmo da sombra mais densa,
ela já me consumia, mesmo sem ser nomeada.
Respiro fundo: a solidão, esse fruto destronado,
e o chão, essa fantasmagoria,
revela seu núcleo mais temeroso e desgastado.
Um anfíbio embriagado tropeça,
desfazendo o ambiente, e o outro,
sempre mais estranho, expande o vazio.
Tudo se torna imenso, absoluto, sem limites.
Uma nova presença se mostra, acalmo meu furor,
me desfaço da luta, acolho-a, ovelha e pastora.
E, distraído, ela é tão bela quanto uma santa.