Mesmo
Tenho medo de acordar o mesmo todos os dias
Tomar os mesmos banhos, comer o mesmo café da manhã
Esperar o mesmo ônibus, na mesma parada
Chegar no mesmo emprego, pra exercer as mesmas funções
Escutar os mesmos pedidos e os mesmos sermões
Esperando o mesmo salário, pra pagar as mesmas contas
Comprar os mesmos tênis e as mesmas roupas
Viver na mesma angústia
Esperando o mesmo final de semana
Pra ir aos mesmos bares
Encontrar os mesmos amigos
Contar as mesmas piadas
Dar as mesmas risadas
E beijar as mesmas bocas
Acordar nas mesmas camas
Com o mesmo arrependimento
Então, no final dos mesmos domingos
Escrever os mesmos poemas
Ao som das mesmas músicas
Com a mesma esperança
De sair do mesmo
Fazer sempre igual, repetir sempre o mesmo
Esperando um resultado diferente
Eu tenho medo, medo do igual
De ficar na mesma, de cair na mesmisse
Eu tenho medo do mesmo
O diferente que te assusta, me alivia
A surpresa que te apavora, me engrandece
A novidade que te limita, me liberta
Me encontro aqui, escrevendo a mesma coisa, que sempre escrevi