delírio
Ao abrir a porta, a poeira se ergueu,
Um véu entre as casas desoladas, pensou,
Sem esforço, não caminharia para o desatino.
Sob uma árvore, o sol descia,
Derramando-se pelas folhas, escorrendo pelo tronco,
E penetrando a sombra até o solo, ferindo
A terra com uma epifania de crepúsculo,
Onde o alto e o baixo se fundem e algo etéreo nasce.
Naquele instante, o pensamento, antes cativo
Da ilusão de um voo eterno entre as estrelas,
Revelou-se uma falácia; sem alicerce,
O espírito, mesmo em seu esplendor, desfalece.
Agora, envolto em orgulho, ainda que enraizado
Na resistência ao próprio engano, reconheceu:
Ao fogo, não apenas a lenha que promete
Um brilho efêmero, mas a certeza de que,
Dado espaço, ele cresceria, independente de causas.
Não buscava uma passagem nos mistérios sagrados,
Mas o alimento da redenção, o pão,
Relíquia da vida, onde o fogo se esconde,
Aguardando para transformar a substância consumida
Em beleza e milagre. Assim, na forja do fogo,
Lancei esperanças pela janela, desafiando o tempo,
Ou talvez entrelaçando-me a ele, como se fosse
Também seu descendente. Escolhi o delírio,
Não a condenação ao fogo, nem a destruição da carne
Ou o consumo da mente. Quando uma fissura no solo
Apagasse meu nome, e minha amada vila
Não se tornasse mais uma ficção entre tantas,
Permaneci ereto. E o fio da imaginação, tangível
Em sua consistência, tornou-se a corda mais segura,
Impregnando os eventos com sentido,
Garantindo que, em minhas mãos, outras mãos
Traçassem a trama, protegendo meu coração
De ser despedaçado.