MEU MUNDO FENOMÊNICO
Meu mundo vai desaparecer em um gemido
como o Fim do Mundo que T.S. Eliot previu
Vou levar todas minhas lembranças
Até as árvores nas quais brinquei a infância
minhas gripes, sinusites, febres e renites
bem como aquele apêndice retirado
e minhas esporádicas dores de ouvido
tudo vai se ausentar com meu esperado sumiço
Ninguém haverá como eu de recordar
do cheiro dos sargaços em minhas narinas
das manchas dos piches em meus pés salgados
das dores afiadas dos espinhos dos ouriços
dos medos da solidão em mim consumada
naquela distante manhã de janeiro adolescente
em que minha mãe morreu no mar afogada
enquanto dormia em sonhos que não lembro mais
Quem saberá dos meus versos frustrados
dos poemas que nunca serão publicados
dos calos que herdei por andar errado
dos pecados que não foram confessados
dos murmúrios e zoadas que trago na mente
das coisas que só cada um é quem sente
e deste meu olhar enviesado que olha de lado
o que muita gente somente enxerga de frente
Quando me ocultar da vida
vou carregar meu mundo comigo
pro interior do meu esquecido jazigo