Infértil

 

 

Não negava que apreciava quem tinha o dom de escrever, em seus olhos havia fome, queria uma frase só, que desse sentido, só não sabia a quê, não era sede pelas letras, era pela vida, buscando qualquer coisa que sempre faltava. Havia uma ferida que não sarava, nas palavras desconexas, que nada de amor diziam, poemas complexos, a sua alma, só entristecia, não havia má vontade em sua incompreensão. 

 

Tal qual um quadro torto, pendurado, palavras aguadas, sem doce sem sal, sem emoção, lhe causava mal. E solidão. Os próprios sonhos pressentem, quando morrem lentamente, até não terem mais nada para dizer, letras atravessam portas, alucinadas percorrem as ruas, sem almas que recriam a vida e que gritam, sem eco, e sequer suportam as letras suas. 

 

Palavras ôcas, por não saberem se expressar, conscientes, totalmente, de que em solo infértil não adianta plantar. No fundo essas almas escondem algo que jamais confessariam. Um coração seco feito àqueles versos, feito a terra sem semente para vingar. Sufoca palavras, reflete,espelho retrato solidão, sem esboço de alegria que a alma jamais confessaria.

Liduina do Nascimento
Enviado por Liduina do Nascimento em 30/03/2024
Código do texto: T8030870
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