Degustador de sobras
Dos sabores que tocam o meu paladar
Arde a acidez das palavras soltas no ar
E me levam a sentir que o banquete
Não está posto para o meu deleite
Tudo que ali me alimenta, também desidrata
Tudo que é servido quente, quando esfria me engasga
Os impropérios dos cantos de boca
A própria boca, que vomita em pedaços
O que qualquer animal na fome devora
E eu, degustador de tantas sobras
Guardo e afundo as palavras gordurosas
No caldo que restou da água salgada dos olhos
Esse prato que se come com faca cega
Nessa carne que fácil se despedaça
Desse grão que já não germina nada
E essa louça suja que não faz questão de ser lavada
Só restam as sobras de uma alma devorada